sexta-feira, junho 30, 2006

25 anos depois

E depois ficamos a saber o que não imaginávamos sequer . Outros desesperos, outras esperanças , outras vitórias , outras derrotas , perto das nossas. Umas vezes as mesmas distâncias outras uma assustadora proximidade. E de repente : sabes ontem .... Como se nada tivesse acontecido. As nossas vidas são tão simples e tão estranhas.

segunda-feira, junho 26, 2006

Santo António já se acabou e o São João...

A propósito do São João de que algumas amigas me falam ser coisa única no Porto - ver por exemplo http://www.inconmcbasf.blogspot.com/ - aqui fica a minha experiência: quando eu tinha 20 anos e andava na Faculdade ia , em bando, na noite de Santo António para a Graça , ali na encosta do Castelo . A noite começava sempre com a busca ( lenta e penosa) de um tasco para comer ( pouco) e beber ( muito). Vinte e duas tascas depois e perto das onze da noite lá se encontrava qualquer coisa. Comer uma bifana gordurosa e espichar uns copázios de vinho martelado significava o início de uma verdadeira noite "santantonina". Perto da meia-noite a turba multa tornava-se ameaçadora entre manifestações de falso júbilo turvado pelo alcool e rijas pelejas em torno de um prato de sardinhas frias . Lá pelas duas da manhã, levado literalmente ao colo pela multidão enfurecida que fazia questão em subir e descer interminavelmente as escadinhas de São Crispim perdia qualquer noção do local em que me encontrava e do verdadeiro propósito que ali me tinha levado. A noite ( madrugada dentro) acabava invariavelmente em discussão profunda acerca da utilidade de semelhantes festejos ou na esquadra mais próxima para formular um confusa queixa por furto da carteira ( com o BI e da carta de condução incluídos). Sem carta de condução e 3, 5 º no sangue mandaria o bom senso que se fosse a pé para casa. Tal não acontecia ( os tempos do condutor 100% cool estavam longe) , razão pela qual às sete da matina se desafiava estupidamente o destino ao volante de um Morris Mini . No dia seguinte não havia Guronsan que valesse, nem Santos a quem rezar. Eis porque , e já lá vão 25 anos, nunca mais festejei o Santo António. E continuo a não gostar de sardinhas . Não conheço o São João . Mas não acredito que seja muito diferente.

Rick Gervais

Discretamente, a nova série de Rick Gervais ( esse mesmo do "The Office") está à venda em DVD com edição portuguesa . Candidato aos Prémios Bafta 2006, " Extras", assim se chama, mostra Gervais ( Andy Millman) como um frustrado actor de televisão que não passa de figurante eternamente à procura de uma " fala" ( ou seja de uma linha de texto para representar) . Um humor subtil que vive da capacidade histriónica de Gervais, mais contido que em The Office. Excelente a representação de Ashley Jensen, parceira de Andy Millman , a feliz/ infeliz loura estúpida em permanente busca do homem dos seus sonhos. Não passou ainda na TV portuguesa ( passará ?) e nas lojas é preciso insistir para se encontrar o DVD.

Conquistadores de Almas

O que mais impressiona em " Conquistadores de Almas" de Pinto de Sá ( Guerra e Paz, 2006) é a aparente insensibilidade ( ou frieza) com que seis anos de militância política radical são retratados. Não há grandes recriminações, poucos ajustes de contas e nenhum julgamento moral. Apenas um retrato cru de uma descida ao inferno das prisões ideológicas e um não menos impressionante retrato das torturas da PIDE e das torturas do COPCON. No meio há ironia bastante para contar como se convivia em Caxias paredes meias com os fascistas de ontem. Uma obra única sobre a militância maoísta pré e pós 25 de Abril. Obrigado a Rui Ramos por ter chamado a atenção para o livro ( que se encontra, na FNAC de Cascais, na secção de ficção portuguesa... )

Cartas Inéditas de Mozart

Por exemplo , à irmã ( 1770): " Vai regularmente ao Mirabell às litanias e ouve o Regina Coeli ou Salve Regina e tem um sono saudável e não sonhes com nada de mau.Ao Senhor von Schindhofen os cruéis cumprimentos, tralatiera, tralatiera. E diz-lhe para aprender o minuete no piano, que não se queira esquecer. Que se queira esforçar, para que me queira dar esse prazer, que um dia o quererei acompanhar. A todos os outros amigos e amigas queiras dar os meus cumprimentos e que queiras viver bem e não queiras morrer, para que possas querer escrever mais uma carta, e assim te quererei escrever uma de volta , e depois queiramos continuar sempre em diante e até que queiramos chegar mais além, mas sempre serei aquele que quererá fazer até que por fim não haverá mais para querer. Entretanto quererei continuar a ser W. M. ". O génio paredes meias com a loucura. Mozart, Uma vida secreta, Selecção epistolar, Lisboa, Cavalo de Ferro, 2006

segunda-feira, junho 19, 2006

Boy meets girl...

...boy marries girl.
Outras alternativas:
" a) boy meets girl mas coitado como não sabe exactamente se quer mesmo ficar com ela ou não, anda a engonhar durante trinta anos ao fim dos quais ele casa com outra 18 anos mais nova que ele.
b) boy meets girl mas meets igualmente boy, boy faz manifestação, boy forma lobby, boy vai a Londres para se casar com boy de aliança e véu.
c) boy meets girl mas acha que ela lhe vai dar tampa e então fica à espera que ela lhe diga alguma coisa, ao fim de dez anos, continua à espera e ela ainda não deu por nada e começa a pensar em dedicar-se ao voluntariado.
d) boy não meets girl nenhuma porque anda de casa para o trabalho e do trabalho para casa e pelo meio só há auto-estrada onde a única girl que ele pode encontrar é aquela vestida de preto com uma foicezita na mão quando vier em direcção a ele aquele velhinho em contramão, daqueles velhinhos que no tempo dos nossos avós estavam a pastorear burros no Alentejo, com a diferença de que os burros podiam andar em contramão mas pelo menos quando conduziam não bebiam.
e) boy meets girl depois outra girl depois outra girl depois outra girl e assim sucessivamente e começa a supeitar que são todas iguais, no que tem uma certa razão.
f) boy de jeito encontra girl sem graça nenhuma, casa com ela, fica casado para sempre porque é um rapaz sério e estraga a vida a duzentas outras girls com quem se divertiria muito mais.
h) boy meets girl mas como é burro não percebe que é a girl da vida dele e continua pacatamente a fazer o que estava a fazer , sapatos ou caretas ou jornais, o que equivale a dizer não ter encontrado girl nenhuma.
i) boy meets girl num chat mas acaba por perceber que ela se chama Zé Manel e pior do que tudo isso , não sabe fazer pastéis de bacalhau".
Catarina Fonseca, O Clube das Encalhadas, Lisboa, Caminho, 2006, assim uma espécie de "Crónica dos Bons Malandros" no feminino. Irresistível.

Verde e vermelho

A bandeira nacional tornou-se moda. E como todas as modas será transitória. Mas enquanto está que venha a preceito . As cores da nossa bandeira são estranhas na sua conjugação. Há quem sugira que passe tudo para azul. Questão de imagem, dizem. O verde/vermelho é africano. O azul é nórdico. Como Guerra Junqueiro queria em 1910. Mas confesso que a esfera armilar em fundo verde/ vermelho entranha-se . E quando vemos meio mundo com as cores nacionais é caso para dizer : por uma vez Portugal é uma bandeira.

sábado, junho 17, 2006

Kepler e Tico Brahe

" Entre Holp e eu havia uma competição secreta...Ele odiava-me abertamente e andou comigo ao murro duas vezes(...) Secretamente Molitor também tinha aversão por mim, mas esse tinha um motivo válido.Uma vez, fiz queixa dele e de Wieland...os meus hábitos idiotas e os meus disparates fizeram de Brauland um inimigo.Os meus hábitos enojavam-no a ele e a mim...Huldenreich afastou-se logo ao princípio por falta de confiança e por causa das minhas censuras imprudentes. (...) Estimulei várias vezes toda a gente contra mim por culpa própria: em Adelberg por deslealdade". E por aí fora. A vida inteira de misérias em auto-retrato , eis a "Auto-Análise" de Johanes Kepler ( 1571-1630). Escrito para justificar a influência dos planetas na sua vida e no seu comportamento e não seguramente para ser tornado público. A fazer lembrar as notas autobiográficas de Rousseau ou, ainda mais, a introspecção de Dostoiveski. Isto tudo a propósito de uma investigação curiosa que pretende provar que o famoso astrónomo foi o assassino do não menos famoso ( mas menos conhecido, excepto para quem já visitou a Dinamarca,onde é herói nacional) Tico Brahe ( 1546-1601) ( "Intriga Cósmica", Lisboa, Aletheia, 2006) . Kepler foi assistente de Tico , na corte do Imperador Rodolfo II, e a história da relação entre ambos - e sobretudo a fascinante avaliação que Kepler fazia de si próprio- vale bem a leitura deste livro .

quinta-feira, junho 15, 2006

Uma vida diferente (II)

Por exemplo : os que viveram à margem de ( quase ) tudo, como o pequeno grupo dos situacionistas nos anos 60. Não posso deixar de me sentir curioso pela vida de Guy Debord. De entre os que militaram na galáxia situacionista( Vaneigem, Asgern Jorn, Pinot-Galizio, Michele Bernstein, entre outros ) talvez tivesse sido o mais coerente com essa ideia ( e prática) de vida diferente. Sem emprego estável, sem qualquer ideal de família, desprezando a sociedade de consumo ( ou do espectáculo, como lhe chamava) , sempre nómada, sem domícilio ou nacionalidade, em permanente estado etílico ( que o levaria à morte " diferente" pelo suicídio) Debord quis e levou uma vida diferente. Eu sei bem que em tudo isso houve muito de teatro e alguma hipocrisia. Pode tentar-se uma vida diferente sem a "vidinha" assegurada ? Debord tinha rendimentos que lhe permitiam levar à prática esse "slogan" situacionista " Não trabalhai nunca". E parte do seu desafogo material deveu-se à amizade com esse capitalista estranhíssimo chamado Gerard Lebovici. Mas a verdade é que momentos houve em que a vida de Debord foi verdadeiramente diferente da de todos nós . E como não ficar fascinado com essa prática tipicamente situacionista ( embora os surrealistas, também a tivessem ensaiado) da "deriva urbana" ? Sair de um ponto na cidade e, sem destino , sem hora marcada, sem planos pre-definidos , sem dia para terminar, andar, andar, andar, andar , em permanente deriva por onde a alma, o coração , os sentidos ou as necessidades nos indicarem . E de tudo ( luzes, sombras,cheiros , conversas, gentes, animais, edifícios ) fazer um registo. Construir situações.

quarta-feira, junho 14, 2006

Uma vida diferente

Do Porto a Lisboa, ao fim da tarde , vim a ouvir, no RCP, uma entrevista de Luís Osório a Pedro Mexia. Gosto de alguma poesia de Pedro Mexia, visito o seu blog com frequência ( nos links aqui ao lado "Estado Civil" ) e, sobretudo, não costumo perder os seus textos no DNA. Bela conversa. Desde logo porque se percebe onde mora a inteligência : é sempre bom escutar alguém que pensa bem e fala bem ( mesmo quando o entrevistador se julga o " artista principal "e tudo faz para estragar a entrevista, como foi o caso) . Depois porque a dada altura Mexia disse que o livro " Fora do Mundo"( Cotovia, 2004) , um excelente repositório de comentários na "blogosfera", foi um verdadeiro "flop" editorial. A sinceridade do autor no momento do desastre editorial é rara mas fica bem . Mais um ponto a favor de Pedro Mexia. Finalmente porque concordei com quase tudo. Sobretudo com essa ideia simples que faz o mundo das pessoas à nossa volta : somos todos diferentes , é certo , mas todos levamos uma vida igual. Por isso tanto nos admiramos ( positiva ou negativamente ) com quem vive uma vida diferente. Mas são tão poucos...

terça-feira, junho 13, 2006

Os ex-maoístas em todo o seu esplendor

No editorial de hoje do " Público" , José Manuel Fernandes ( J.M.F.) ( ainda me recordo dele como fogoso maoísta no Liceu Pedro Nunes) escreve uma peça jornalística de antologia. Antologia de como não devem ser escritos artigos de jornais ou de como um editorial pode ser desinformado e preconceituoso. O tema é a separação de poderes , no caso entre o executivo e o judicial, o pretexto o encerramento da Maternidade de Elvas e a opinião a de que o juiz que decidiu ontem favoravelmente a providência cautelar que procura evitar o encerramento, decidiu por razões políticas e sem competencia jurídica. O extraordinário é que J.M.F. confessa que não leu o acórdão e que portanto nada sabe sobre as razões do juiz. Ou seja, a sua opinião é um mero palpite sobre fundamentos desconhecidos, envolta em considerações pouco informadas sobre a separação de poderes . Entre as pérolas acerca do tema lemos que a origem da separação de poderes remonta à Magna Carta britânica do sec. XIII ( ???) . E, mais adiante, sustenta que um magistrado declarar ilegais leis "aprovadas por esmagadora maioria " é um verdadeiro escândalo (???) . Receio bem que toda esta sabença resulte da frequência no tal Mestrado em Ciência Política da Católica ( orientado pelo também ex-maoísta José Carlos Espada) a qual , segundo consta, estaria a ser "aconselhada" a todos os jornalistas do Público. Pelos vistos o resultado não é brilhante. Acresce que como J.M.F. não domina a natureza jurídica e o regime dos procedimentos cautelares ( a avaliar pelo que escreve) acha que estes só podem resultar em actos políticos . É claro que se se tivesse informado antes de escrever facilmente concluiria que os procedimentos cautelares são instrumentos urgentes assentes em pressupostos jurídicos ( e não políticos) minimamente consistentes ainda que provisórios ( funus boni juris e periculum in mora) . De resto no caso da Maternidade de Elvas o que está por fundamentar não é a decisão do juiz mas sim a do Governo. Eis como se faz jornalismo em Portugal ou de como os ex-maoístas continuam esplendorosos...

sábado, junho 10, 2006

Julieta Monginho

Uma prosa difícil. Lemos umas páginas. Paramos. Relemos o capítulo. As personagens fogem mas regressam mais à frente. Discurso directo umas linhas, indirecto adiante. Pode até confundir.Às tantas não é tanto a efabulação que conta. O romance já não é romance . É mais o retrato psicológico. Mas a escrita é poderosa, densa, única . E pode uma mulher escrever pelos olhos de um homem ? Pode e com grande encantamento . Um exemplo : " Neste diálogo os olhares se encontraram .O olhar que era dela o olhar que não era meu. E os olhos ficaram. Negros, lisos. Ficaram nos meus olhos.Sim foram os olhos que falavam com a serenidade do orgulho, húmidos de fé nas palavras que traziam dois olhares ao mesmo olhar. Não o decote, apesar do que escondia, não as coxas que mal podia adivinhar sob o vestido solto, um tudo nada acima dos joelhos.Foram os olhos que me deram vontade de a sentar ao colo e de ficar com ela a vida toda . Regressar com ela através do corpo dela, anel comovido que por dentro me enlaçava, à plenitude inicial.Eu encontrei ao mulher da minha vida." ( p. 55 , A Construção da Noite). E já agora : Julieta Monginho é de um grande curso jurídico, o meu, na FDL , de 1976-81, que faz agora bodas de prata ( tanto tempo , meu Deus ...)

quarta-feira, junho 07, 2006

Então, gostaste do Roger Waters ?

Adorei. Fiz "rewind" 30 anos . O prisma , o arco íris, a capa preta do vinil , o gira-discos, a garagem : "Us and then / and after all we´re ordinary men/ Me and you/ God only knows it´s not what we would choose to do" . "The lunatic is in my head, The lunatic is in my head/ You raise the blade, you make the change/ You re-arrange me till I´sane/You lock the door/ and throw away the key/ There´s someone in my head but is not me. " " Run rabbit run / Dig that hole, forget the sun/And when at last the work is done/ Don´t sit down it´s time to start another one". " Money , get away/ Get a good job with more pay and your O.K." "Ticking away the moments that make up a dull day"" And if the band you´re in starts playing different tunes/ I´ll see you on the dark side of the moon". Como escreveu Eurico Monchique no Público : temas que estão muito para lá do rock sinfónico, canções que se libertaram do grupo que as criou e que alcançaram a " sublime simplicidade". É por isso que ao escolher os excertos que antes citei de "The dark side of the Moon" ( fui buscar o meu bem conservado e já valioso vinil) foi a cantar que fui escrevendo.

terça-feira, junho 06, 2006

Match Point

Já se sabe que o fatalismo de Woody Allen acaba sempre da mesma maneira : a vida é uma roleta . A fortuna comanda a nossa vida mesmo quando queremos dominá-la. Não há Deus( uma peça) que nos valha, nem sorte que sempre dure. Mas talvez não seja bem assim. Muito da nossa vida depende de nós e só de nós . Acredito que a "virtú " pode dominar a roda da fortuna. E que a sua falta gera a desilusão. Como se prova no último filme de Woody Allen. Um exemplo basta : as virtudes de Scarlett Johansson revelam-se muito mais no registo silencioso em "Lost in Transition " ( dirigida por Sofia Coppola) do que nos gritarias conjugais em "Match Point".

Mistério resolvido

Obrigado Inconfidências. Obrigado Cão com pulgas. Obrigado Herdeiro de Aecio . É o que dá tentar acrescentar "links" sem saber. A ignorância é atrevida.

segunda-feira, junho 05, 2006

Mistério

Os dizeres aqui ao lado sumiram. Foram pelo buraco do ponto, como dizia Francisco da Cunha Leal nas suas "Memórias". Como nada fiz para que isso acontecesse aguardo tranquilamente que ressuscitem...

sábado, junho 03, 2006

Novidades na blogosfera

Dois blogs novos ( para mim, pelo menos) que aconselho vivamente: http://inconmcbasf.blogspot.com ( Inconfidências) e http://cao-com-pulgas.blogspot.com ( cãocompulgas) Blogs no feminino , é claro , que são os melhores da blogolândia.

A revolução na Justiça

Quer saber qual a decisão do Supremo Tribunal Militar sobre o assalto à Embaixada de Espanha no Verão quente de 1975 ? Ou sobre as mortes no Ralis após o 11 de Março ? Ou recordar, mas com rigor histórico ( isto é , lendo as decisões e os despachos judiciais) o que aconteceu com o caso José Diogo no delirante Alentejo de 1975 ? Ou quem contribuiu para que desde 1976 o Presidente da República passasse a ser eleito pelo Povo ? Então não perca o último número da revista Sub Judice ( 30-31 de Jan-Jun. 2005) dedicado aos 30 anos do 25 de Abril : A revolução na Justiça. Um número histórico , muito bem coordenado por António de Araújo que faz sempre bem tudo aquilo em que se mete .

O livro do ano

E um dos melhores romances portugueses dos últimos anos: " Camilo Broca" de Mário Cláudio. Uma prosa genial que se lê e relê com prazer . Uma ironia irrestível que faz lembrar Eça , em alguns casos para melhor ( releve-se a blasfémia para os puristas) . Uma passagem ( p. 267) : " Garantia minha tia Rita Emília que Simão António, seu mano, jamais beijara uma fêmea. Muito chegado ao mulherio,Deus me livre! não havia como ele para ficar de cabeça à roda com um rabo de saia, mas afirmava que só os homens que são pouco homens se atrevem a descer a semelhantes misérias."Isso de beijar, o que se chama beijar, apenas o anel do bispo, e em ocasião especial, por ser representante do Papa e possuir este a qualidade de Vigário Geral de Nosso Senhor Jesus Cristo" . A lenda que se fora tecendo em torno do rapaz aproveitava-se contudo desta repugnância, concitando as donzelas viseenses a uma tácita disputa, a de determinar qual delas enlouqueceria o filho do magistrado o bastante para que capitulasse com um chocho, posto que não completamente nos lábios". A correr já à Feira do Livro de Lisboa ou do Porto e comprar...