terça-feira, janeiro 31, 2006

Aristocracia

"Perdemos bem. O resultado é justo " . Vai toda a diferença no ser-se benfiquista. Fosse o inverso e as culpas iriam para o "sistema", os " árbitros", o "estado da relva", a "iluminação ". Até parece que Koeman nasceu benfiquista. A aristocracia está no espírito, não está na bolsa.

terça-feira, janeiro 24, 2006

Irreal

Há sempre quem se recuse a encarar a realidade . Ou a justificar as suas opções ( desastrosas) com fundamentos que não resistem a dez segundos de reflexão. Escreve hoje Medeiros Ferreira no "DN" que a candidatura de Mário Soares" foi desde sempre um exemplo daquelas virtudes republicanas que a mitologia histórica fixou na Roma pré-César". Ou é piada ou o autor ignora o que sejam virtudes republicanas. Nem é preciso ler o livro de Rui Mateus. Basta uma rápida digressão pelo passado político do Dr. Mário Soares, incluindo a recente ( e nada republicana) campanha. A devoção à pátria , a lealdade, o desapego aos bens materiais, a obsessão com o interesse público, o "audi alteram partem", a intransigência ética, tudo isso está e esteve ausente no candidato oficial do PS. Terá concerteza as suas qualidades, não o nego. Mas virtudes republicanas é que não. Mendés-France ou Manuel Azana deram várias voltas nas suas tumbas...

domingo, janeiro 22, 2006

Portugal visto de Espanha

O "El Pais" de hoje escreve sobre Portugal a propósito das presidenciais. Texto apocalíptico : "Portugal país com mais de dois milhões de pobres, uma taxa de desemprego em crescimento e a estrutura mais desigualitária da Europa, procura um salvador". Meia dúzia de opiniões dos negativistas de serviço, alguns dados estatísticos e a visão do jornalista em estilo ligeiro "Lisboa é um mostruário de contrastes :milhares de automóveis de luxo coexistem em pleno centro da cidade com numerosos mendigos". A prosa pertence à categoria "olhem aqui para o lado para estes pobretanas e vejam como somos guapíssimos". Curiosamente a mesmíssima edição do El Pais publica um debate acerca da pobreza em Espanha: então não é que o insuspeito Instituto Nacional de Estatística espanhol descobriu que quase 20% da sua população vive em condições de precariedade ( ou seja oito milhões são pobres) ? O secretário da Caritas espanhol vem mesmo lançar um alerta acerca dos novos pobres gerados pela desigual distribuição de renda. É claro que este tipo de discurso da imprensa espanhola não é novo. O El Pais, um bom jornal , vende em Portugal diariamente 5000 exemplares, lidos sobretudo pela comunidade espanhola que é cada vez mais numerosa. Nesse sentido o objectivo é reforçar a auto-estima castelhana quando confrontada com a realidade lusa ( ou pelo menos com a realidade que os media querem enfatizar) . E o ponto é esse. Quantos jornais ( ou órgãos de comunicação social) portugueses publicariam um artigo no tom daquele que o El Pais hoje edita acerca da situação social e económica de Espanha ( que está longe de ser famosa) ? Não conheço nenhum. A TVI e o seu grupo é claro que não, controlada que está pelos espanhóis da Prisa ( El Pais claro). E os outros embarcam no negativismo nacional ( que é diferente do pessimismo ) porque é isso que vende. Quem se arrisca a fazer o elogio de qualquer coisa ( tirando as glórias do futebol luso) vai para a galeria dos ingénuos . Na rua , no emprego, nos cafés o que se ouve é essa atitude miserabilista e estúpida do " lá fora é que é bom" alimentada em boa parte pela comunicação social portuguesa e por meia dúzia de "opinion makers" ( honra seja feita ao Prof. Marcelo Rebelo de Sousa, que tem tido sempre a atitude oposta) . Os historiadores procuram explicar isto que parece não ser novo na história portuguesa e pelo contrário acontecer ciclicamente. Por mim continuarei a ler o El Pais ( e o El Mundo que no anti-portuguesismo é um bocadinho pior) com o necessário desconto quando fala de Portugal e dos portugueses.

sábado, janeiro 21, 2006

Estética

"Por isso não me rendo.Por mais que me intimidem continuarei a resistir.Não propriamente por razões militares ou morais.Diagamos que por razões estéticas.Um homem não se rende."
Manuel Alegre, O Quadrado, Lisboa, 2005, Dom Quixote,p.62

sexta-feira, janeiro 20, 2006

Sondagens

Algumas perguntas: porque é que só uma das sondagens publicada nos últimos dias coloca Soares à frente de Alegre ?
Será coincidência vir da Eurosondagem , cujo responsável máximo ( não sei se sócio se empregado) pertence aos órgãos de direcção do PS ?
E nesta matéria das sondagens , atenta a sua cada vez maior repercussão, não faria sentido existir um regime de incompatibilidades ?

terça-feira, janeiro 17, 2006

Presidenciais: Veto

Um dos mais significativos poderes presidenciais é o veto político. Nos termos do art. 136º da CRP o PR pode exercer o veto político em relação a três tipos de diplomas : leis, decretos-leis e decretos regulamentares. No primeiro caso o chefe de estado sujeita-se a que o seu veto seja superado pelas maiorias qualificadas previstas no arts. 136º nº2 e 3 , consoante o tipo de leis em apreço. Mas a verdade é que a confirmação do veto pode tornar-se difícil ou mesmo inviável no quadro parlamentar, designadamente num ambiente de pulverização partidária ( isto é sem um partido ou coligação maioritários). Aí o veto acaba por prevalecer. Mas onde ele prevalece sempre é no caso dos decretos-leis e decretos regulamentares, ambos do Governo. É certo que o Governo pode ter a tentação de transformar o decreto-lei em proposta de lei e remetê-la à AR ( se aí tiver apoio parlamentar bastante) , mas um módico de bom senso impedirá de recorrer a essa estratégia com insistência. Em suma , atenta a legitimidade política do PR no nosso sistema ( recorde-se sufrágio directo) , o veto político é um importante poder presidencial. Eanes, Soares e Sampaio utilizaram-no com alguma frequência- mas sempre com bom senso - e curiosamente ( ou não ) muito mais nos 2ºs mandatos. Também por aqui se vê que a ideia de que o PR nada pode fazer é errada.

Uma campanha alegre (I)

Após três meses de campanha fica o quê ? Imagens e frases nos media:
A caracterização de Francisco Louça como "Cavaco Silva do avesso" feita porManuel Alegre.
Soares ontem " à espera dos bombos" no meio do desastre que foi a campanha em Viseu/Lamego .
A expressão de Cavaco Silva após saber das opiniões de Santana Lopes.
O Ministro Mário Lino a falar do "Presidente Cavaco Silva".

Teixeira Gomes

E por falar em Teixeira Gomes, o nosso único Presidente escritor, não há como ele para imaginar( em Agosto Azul) um Algarve que já não existe.

Alegre

Porque razão Alegre ultrapassará Soares nas presidenciais ? Porque de todas as eleições sendo a presidencial a mais personalizada é a que resiste mais à influência partidária . O que significa que o candidato conta mesmo. E no confronto entre Alegre e Soares o primeiro ganha . Depois há uma campanha péssima de Soares a mostrar o pior deste. E à medida que Cavaco parece ganhar à primeira tudo se solta. À esquerda não faz sentido falar de concentração de votos no candidato oficial do PS. À direita alguns podem dar-se ao luxo de votar Alegre , o mais transversal dos candidatos ( pose monárquica, tom republicano ) . Explicará tudo ? Talvez não. Resta que num país de poetas ( dizem) um Presidente poeta ( já lá tivemos o Teixeira Gomes, mas não era poeta) também tem o seu encanto...