O Melhor de 2006

O melhor que li, vi e ouvi em 2006 ( não necessariamente de 2006) .
Livros:
1- Mário Claudio, Camilo Broca;
2- Rui Tavares, Pobre e Mal Agradecido
3- Murakami, Norwegian Wood
4-Luis Bunuel, Meu Último Suspiro
5- Jacques Atali, C´etait Mitterrand
Discos:
1- Scritti Politti, White Bread, Black Beer
2- Lambchop, Damaged
3- Ana Carolina e Jorge, Ao Vivo
4- Loyd Cole, Antidepressant
5- Joanna Newson, Ys

Filmes, Séries:
1- Rome
2- Rick Gervais, Extras
3- House
4- Lost in Transition
5- Sylvia


Melhores cronistas ( de longe) : Leonor Pinhão e Pedro Mexia

A fórmula de José Rodrigues dos Santos

Fui levado pela propaganda. Disseram os jornais que o tema era o da prova científica da existência de Deus. Tema interessante no cruzamento da ciência e da religião. Comprei e li a "Fórmula de Deus ". Ou melhor li até à página 109. Desisti. O tema anda por lá é certo. E admito que tenho exigido estudo e aplicação ao autor. Mas para isso é melhor ler um ensaio de divulgação científica. O romance está mal escrito ( aquela de pontuar os diálogos " bem ..uh.. é verdade" ...) . Não há ali uma fagulha de originalidade, um átomo de criatividade literária. Nada emociona, tudo aborrece. Margarida Rebelo Pinto volta que estás perdoada! Vende que nem pãezinhos quentes ? Pois vende. E depois ?

O Sol encoberto

Deixei de comprar "O Sol". Constato o mesmo junto de amigos e conhecidos . O jornal é muito mauzinho . As prosas do Director são de gargalhada ( já eram no Expresso, mas agora pioraram). Não tem notícias, não tem opinião e não tem grafismo . E consegue esse feito extraordinário de trasnformar o Expresso numa obra de arte.

Esprits Libres

Não há na televisão portuguesa um programa literário ( cultural) de jeito. As conversas daquele moço que escreveu um livro premiado com Manaus no título ( não me lembro do nome agora) é uma coisa suporífera, recheada de elogios mútuos tipo " magnífica obra que acabaste de publicar, quase tão boa como a minha". A charla entre a Bárbara Guimarães e os seus convidados é fraquinha, pese embora a simpatia da entrevistadora. E o programa da Paula Moura Pinheiro até podia ter interesse não fosse a escolha desastrada dos convidados. Na TV5 passa às 5ªs feiras à noite um programa cultural " Esprits Libres" . O de ontem por exemplo era sobre a música francesa. Uma mesa redonda com 7 ou 8 convidados, autores de livros sobre o tema , todos em amena cavaqueira , mas sabiamente controlados pelo moderador. Boa realização televisiva com grandes planos dos intervenientes, sem mudanças irritantes. Não é preciso inventar nada. Basta copiar mais ou menos.

Conversa de águias de ouro

O meu amigo P.C. na ressaca do Manchester-Benfica mostra-me o cartão de sócio com o nº 2000 e tal. É obra. São 50 anos de benfiquismo. E larga: " Quando perdemos com os que são melhores não fico nada chateado. O pior é empatar com o Paços de Ferreira ...". E acrescenta a T.C, outra benfiquista quase águia de ouro : " E o Porto ter passado..." . Claro que sim. Confesso que não consigo ser patriota ( mas haverá patriotismo nisto de futebóis ? ) nestas alturas .

Luis Bunuel

A tradução portuguesa das memórias de Luis Bunuel é um acontecimento literário. Publicadas originariamente em 1982 são um roteiro político e cultural do sec. XX. Com Bunuel acompanhamos Dali, Alberti ou Unamuno em Madrid , Breton em Paris , Chaplin em Nova York. Um percurso que atravessa a Guerra Civil espanhola , a II Guerra Mundial e acaba no fim dos anos 70. É uma auto-biografia em estilo solto, nem sempre cronológica, mas recheada de pequenas e deliciosas histórias de gente famosa. Bunuel é cruel com a vida , não esconde os erros e arrepende-se muitas vezes. Recordo-me do fascínio que os surrealistas exerceram na minha adolescência, quando li Breton ( "mudar o mundo, mudar a vida") . E não esqueço o deslumbramento que foi , para mim, na vertigem do imediato pós 25 de Abril, ver o " Fantasma da Liberdade ( no Estúdio 444, ali na Defensores de Chaves ? ) , um dos últimos filmes de Bunuel.