domingo, janeiro 22, 2006

Portugal visto de Espanha

O "El Pais" de hoje escreve sobre Portugal a propósito das presidenciais. Texto apocalíptico : "Portugal país com mais de dois milhões de pobres, uma taxa de desemprego em crescimento e a estrutura mais desigualitária da Europa, procura um salvador". Meia dúzia de opiniões dos negativistas de serviço, alguns dados estatísticos e a visão do jornalista em estilo ligeiro "Lisboa é um mostruário de contrastes :milhares de automóveis de luxo coexistem em pleno centro da cidade com numerosos mendigos". A prosa pertence à categoria "olhem aqui para o lado para estes pobretanas e vejam como somos guapíssimos". Curiosamente a mesmíssima edição do El Pais publica um debate acerca da pobreza em Espanha: então não é que o insuspeito Instituto Nacional de Estatística espanhol descobriu que quase 20% da sua população vive em condições de precariedade ( ou seja oito milhões são pobres) ? O secretário da Caritas espanhol vem mesmo lançar um alerta acerca dos novos pobres gerados pela desigual distribuição de renda. É claro que este tipo de discurso da imprensa espanhola não é novo. O El Pais, um bom jornal , vende em Portugal diariamente 5000 exemplares, lidos sobretudo pela comunidade espanhola que é cada vez mais numerosa. Nesse sentido o objectivo é reforçar a auto-estima castelhana quando confrontada com a realidade lusa ( ou pelo menos com a realidade que os media querem enfatizar) . E o ponto é esse. Quantos jornais ( ou órgãos de comunicação social) portugueses publicariam um artigo no tom daquele que o El Pais hoje edita acerca da situação social e económica de Espanha ( que está longe de ser famosa) ? Não conheço nenhum. A TVI e o seu grupo é claro que não, controlada que está pelos espanhóis da Prisa ( El Pais claro). E os outros embarcam no negativismo nacional ( que é diferente do pessimismo ) porque é isso que vende. Quem se arrisca a fazer o elogio de qualquer coisa ( tirando as glórias do futebol luso) vai para a galeria dos ingénuos . Na rua , no emprego, nos cafés o que se ouve é essa atitude miserabilista e estúpida do " lá fora é que é bom" alimentada em boa parte pela comunicação social portuguesa e por meia dúzia de "opinion makers" ( honra seja feita ao Prof. Marcelo Rebelo de Sousa, que tem tido sempre a atitude oposta) . Os historiadores procuram explicar isto que parece não ser novo na história portuguesa e pelo contrário acontecer ciclicamente. Por mim continuarei a ler o El Pais ( e o El Mundo que no anti-portuguesismo é um bocadinho pior) com o necessário desconto quando fala de Portugal e dos portugueses.

2 Comentários:

Anonymous Anónimo disse...

Exactamente! Esse hábito de nos rebaixarmos está de tal forma enraízado que Portugal se arrisca a transformar-se numa profecia auto-realizada de insucesso.
Já em Espanha se raciocina de forma inversa e se compreende o valor da propaganda positiva.

Bom post.

8:04 da tarde  
Anonymous Anónimo disse...

Que o El Pais diga este tipo de coisas, não me espanta. Afinal, todos gostamos sempre (lá no íntimo) de dizer que os outros são mauzitos. O que me espanta é que em Portugal este tipo de discurso seja perfeitamente normal. É "óbvio" que somos péssimos e que a Espanha é óptima. Ninguém questiona essa verdade absoltua simplesmente porque quem o fizesse seria considerado estúpido ("então tu não vês?").

10:39 da tarde  

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