Uma vida diferente (II)
Por exemplo : os que viveram à margem de ( quase ) tudo, como o pequeno grupo dos situacionistas nos anos 60. Não posso deixar de me sentir curioso pela vida de Guy Debord. De entre os que militaram na galáxia situacionista( Vaneigem, Asgern Jorn, Pinot-Galizio, Michele Bernstein, entre outros ) talvez tivesse sido o mais coerente com essa ideia ( e prática) de vida diferente. Sem emprego estável, sem qualquer ideal de família, desprezando a sociedade de consumo ( ou do espectáculo, como lhe chamava) , sempre nómada, sem domícilio ou nacionalidade, em permanente estado etílico ( que o levaria à morte " diferente" pelo suicídio) Debord quis e levou uma vida diferente. Eu sei bem que em tudo isso houve muito de teatro e alguma hipocrisia. Pode tentar-se uma vida diferente sem a "vidinha" assegurada ? Debord tinha rendimentos que lhe permitiam levar à prática esse "slogan" situacionista " Não trabalhai nunca". E parte do seu desafogo material deveu-se à amizade com esse capitalista estranhíssimo chamado Gerard Lebovici. Mas a verdade é que momentos houve em que a vida de Debord foi verdadeiramente diferente da de todos nós . E como não ficar fascinado com essa prática tipicamente situacionista ( embora os surrealistas, também a tivessem ensaiado) da "deriva urbana" ? Sair de um ponto na cidade e, sem destino , sem hora marcada, sem planos pre-definidos , sem dia para terminar, andar, andar, andar, andar , em permanente deriva por onde a alma, o coração , os sentidos ou as necessidades nos indicarem . E de tudo ( luzes, sombras,cheiros , conversas, gentes, animais, edifícios ) fazer um registo. Construir situações.
1 Comentários:
De certa maneira é verdade que algum apoio material conforta as poucas vidas diferentes que existem. Mas são sempre necessárias opções, que nem sempre são fáceis de levar por diante.
Excelentes posts!
Bom feriado!
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