sábado, março 25, 2006

A doença , o riso , a fé e a morte

A vida e a morte de Francois Mitterrand pela pena de um dos seus próximos, Jacques Attali , C´était Mitterrand, Paris, Fayard, 2005. O retrato impressivo de um homem que não deixou ninguém indiferente. O melhor, para mim, não está na intriga , nas celebrações, no fausto , na sua monárquica concepção presidencial. Está no desafio do homem igual a qualquer um de nós, face ao seu destino . A 17 de Novembro de 1981, escassos dias após a sua entronização como Presidente da República, chamou Jacques Atali e Pierre Bérégovoy : " Os médicos anunciaram que estarei morto antes do fim do ano". Quando Coluche se suicidou em 1986 " O suícidio é triste. Um impulso que pode desaparecer dez minutos mais tarde..." " Chorar os outros é uma forma de chorarmos nós próprios. Aqueles que partem levam uma parte de nós que ninguém mais devolverá". Gostar de rir e fazer rir , como forma de distanciamento face à morte. Quando Giscard se apresentou como candidato à Presidência : "esperávamos antes que ele nos apresentasse as suas desculpas". No debate com Chirac em 1988 , após apresentar um sem número de dados estatísticos :" acreditei em dado momento que ele queria fazer-me um seguro". Sobre a sua relação com Deus ( com o espiritual ) : a fé é irracional. E é perfeitamente possível acreditar em Deus e na ciência ao mesmo tempo." Foi surpreendido de olhos fechados, como que em oração, em vários locais de culto : na sinagoga da Rua Copernico, em Paris, no templo chintoista de Kyoto, na catedral de Santa Sofia em Kiev. Rezar ( terá lido Teresa ? ) : " creio que precisamos de rezar, quer dizer de encontrar um meio de comunicação pelo pensamento com qualquer coisa de mais alto . Um exemplo simples: vendo o modo como as ondas transportam o som e a imagem, interrrogo-me porque não podem elas transportar uma grande intensidade de pensamento. É preciso muita vaidade para pretender conduzir a vida apenas contando com as próprias forças". Depois da morte: o " que espero mais é rever a minha mãe. Foi o que me consolou quando me disseram que tinha a morte próxima: reencontrá-la . Estará próximo." Quinze anos depois cumpriu-se a sua vontade : " não quero morrer no Eliseu". Esforçou-se por olhar a morte cara a cara. E perante este adversário invencível impôs o seu calendário : quinze anos de vida contra todos os prognósticos. Disse a Jack Lang em 1994 :" resolvi a questão filosófica ". Nas suas palavras : " un combat honorable". Mitterrand como todos nós , simples mortais.

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